sábado, 22 de setembro de 2012

O "diletantismo irresponsável" da Inteligência no Brasil

O "diletantismo irresponsável" da Inteligência no Brasil
Artigo de André Soares - 25/03/2012


“O melhor que se pode dizer sobre o que acontece aqui é um diletantismo irresponsável” é história proibida da Inteligência de Estado de um importante e promissor país emergente; mas que se divorciou das sábias palavras do coronel Walther Nicolai, chefe do serviço de inteligência do chanceler Bismarck, que profetizou: “A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona".
Pois, essas palavras foram proferidas numa tensa e ríspida reunião sigilosa à principal autoridade do órgão central do sistema de inteligência daquele país, em razão das graves irregularidades cometidas pela cúpula do seu principal serviço secreto. Contudo, visceralmente comprometido, esse dirigente máximo não hesitou em retaliar clandestinamente o seu interlocutor, que evidentemente caiu em desgraça. Todavia, numa reviravolta surpreendente, aconteceu o inimaginável num serviço de inteligência de um estado democrático de direito. Pois, numa reunião secreta, urgentíssima, estava o referido dirigente máximo da inteligência nacional, cabisbaixo, nervoso e visivelmente abalado, pedindo solenes desculpas oficiais, em nome da principal agência de inteligência nacional, pelos referidos desvirtuamentos cometidos, cujas escusas foram apresentadas subservientemente à pessoa daquele mesmo protagonista que hostilizara.
Na verdade, esse inadmissível capítulo da inteligência daquele país constituiu um desesperado estratagema governamental para evitar a todo custo que o "diletantismo irresponsável" de seus serviços de inteligência fosse revelado. Porém, o seu resultado final foi desastroso porque o referido protagonista reagiu veementemente contra a subseqüente e inescrupulosa tentativa de sua cooptação. Destarte, o que se seguiu naquele gabinete ultrassigiloso reflete a gravidade do caso em testilha porque “quem deve, teme - e treme”. Assim, temeroso da sua inevitável responsabilização, o dirigente máximo de inteligência descontrolou-se em ingentes ameaças ao referido protagonista que, sendo provenientes da direção-geral do principal serviço secreto de um país, trata-se da mais tácita e fatal condenação que uma pessoa pode receber em vida.
“Não imaginei que havia criado um monstro” foram as célebres palavras de arrependimento proferidas pelo General Golbery do Couto e Silva, ante à degenerescência do Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em 1964, do qual foi um dos principais idealizadores, e que culminou com sua extinção no governo Fernando Collor de Melo. Como o presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) não se afastou dos erros passados ressuscitou no Brasil o espírito do antigo SNI, sob a denominação de Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), criada como órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), pela Lei 9883, de 07 de dezembro de 1999. Com pouco mais de uma década de existência, a história da ABIN se caracteriza por sua escandalosa e generalizada ineficiência, contaminando o SISBIN e por uma sucessão de escândalos e crises institucionais de âmbitos nacional e internacional, cujas danosas conseqüências implicaram a exoneração de vários diretores-gerais, ao longo dos governos FHC e Lula.
Na atual conjuntura, o Brasil sofre a maior e pior crise institucional de inteligência sem precedentes na sua história, incipientemente desvelada à sociedade, em 2008, no festival de clandestinidades da Operação Satiagraha, criminosamente patrocinadas pela direção-geral e toda a cúpula da ABIN. Em pleno governo Dilma Rousseff, nada efetivamente foi realizado contra esse intolerável estado de coisas. E, no epicentro desse caos que vive a Inteligência de Estado no Brasil, a ABIN e o SISBIN continuam uma "caixa preta" invencível, sem controle, em flagrante atentado contra o estado democrático de direito vigente, obscuramente protegida pela impunidade, inação e rápido esquecimento de nossos governantes sobre seus crimes praticados contra o estado brasileiro, cujos culpados nunca foram responsabilizados; e sob a cumplicidade dos órgãos de controle, dos poderes executivo, legislativo, judiciário e do ministério público.
No momento em que aquele protagonista saiu do gabinete da presidência da república, após o derradeiro e fatídico desfecho sobre o “diletantismo irresponsável” que impera na inteligência nacional daquele país sem história, ele sabia sobejamente sobre o terrível destino que o aguardava, e que as piores contingências acometeriam os desígnios do seu país e da sua vida.

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