quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A melhor idade

Artigo de André Soares - 06/09/2012

 



As pessoas com idade avançada são impropriamente denominadas de velhas. Porque como é notório que há pessoas que são velhas por toda a vida significa que o envelhecimento não é apenas uma conseqüência exclusiva do inexorável transcurso do tempo. Todavia, o aterrorizante medo da morte tem recrudescido a exacerbação do autoengano nos dias atuais. Destarte, verifica-se o emprego da manipulação logomáquica, visando ao mascaramento da inevitável fase terminal da vida, pela adoção de expressões eufemísticas como “idade da razão”, “idade da sabedoria” e “melhor idade”, dentre outras. Contudo e contrariamente ao senso comum, a verdade sobre o envelhecimento é trágica, o qual não é nem mesmo o apogeu das virtudes e sabedoria humanas. Essa dura realidade da vida foi brilhantemente retratada nas sábias e sinceras palavras de Rita Lee, a talentosa e irreverente rainha do rock brasileiro que, alcançando a “terceira idade”, declarou corajosamente: “...Envelhecer é uma merda!”
Não há nada de bom em envelhecer. Absolutamente, nada. Aceitar essa verdade inconteste é dolorosamente insuportável para a esmagadora maioria das pessoas. E a tragédia do fim da vida é ainda pior porque é pura mentira acreditar que o envelhecimento proporciona virtuosidades e sabedoria. Ledo engano. Porque envelhecer, além de ser o pior momento da vida em todos os sentidos, é a fase em que a maioria das pessoas fica ainda pior do que sempre foi. Todavia, a boa notícia é que a "melhor idade" existe e pode durar por toda a vida. Mas, para isso, é necessário compreender que o ser humano possui inúmeras idades, sendo quatro as mais importantes.
A primeira e menos importante delas é a “idade cronológica” que, sendo meramente quantitativa, é matematicamente referenciada em relação à data de nascimento. A despeito de ser motivo de preocupação e omissão especialmente pelas mulheres a partir da fase adulta, sua principal utilidade é referenciar o tempo de vida transcorrido. Nada mais. Todavia, alcançar o seu maior valor possível é a obstinação que a humanidade mais se preocupa, muitas vezes se esquecendo de que viver em quantidade só é satisfatório se houver qualidade de vida. Caso contrário, a existência humana se transforma em mero suplício.
A segunda idade em importância é a "idade aparente", que é a idade cronológica que as pessoas imaginam a respeito de outrem. Ela tem crescente importância social, notadamente a partir da maturidade, no sentido de se aparentar máxima beleza e jovialidade, próprias de "idade cronológica" inferior a que realmente se tem. A despeito de sua menor expressão no ranking das idades humanas, a "idade aparente" é considerada unanimemente como a mais importante de todas, em razão das inúmeras oportunidades auspiciosas que ela proporciona no mundo atual, dominado pela ditadura da “lei do mais belo(a)”.
Contudo, a terceira idade é muito mais importante que as anteriores. Trata-se da "idade física", que espelha a saúde, higidez e vitalidade do organismo. Investir numa excelente "idade física" é crucial para se viver bastante, mas principalmente por viabilizar máxima qualidade de vida. Infelizmente, a realidade da atual conjuntura é que as sociedades estão contaminadas por crescentes epidemias de natureza comportamental, devidamente alardeadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), principalmente a de transtornos mentais e de obesidade, revelando que as pessoas estão adoecendo, descuidadas de suas "idades físicas", tão essencial à saúde e à própria vida.
Por fim, a "idade psíquica" é a mais importante das idades humanas. Ela é a principal determinante da vida, pois é a idade do espírito e da alma de quem vive. Assim, a "melhor idade" é a "idade psíquica” dos jovens, cuja juventude não é proveniente apenas do corpo, mas principalmente da mente humana. Mas, o que é ser jovem? Ser jovem é possuir a virtude da rebeldia que, ao contrário do que se imagina, não é aspecto depreciativo da personalidade. Porque rebeldia é o atributo de caráter próprio de quem não se permite dominar, não é subserviente, não se subverte, não se vende, não se corrompe, não se escraviza, e luta apaixonadamente por suas ideias. Isso é ser jovem.
Portanto, enquanto o ser humano tiver o espírito da "idade psíquica" da rebeldia ele será eternamente jovem, a sua vida terá propósito e será vivida com tesão, terá graça, beleza, saúde, vigor, alegria e felicidade. Essa é a "melhor idade". E que seja eterna enquanto dure!
 


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